terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Onde Os Tristes Se Divertem

A montanha russa de ideias desajeitadas
O parque no meio do nada
O parque das diversões esquecidas
As diversões quietas das almas cansadas

Estava lá: a montanha russa das ideias desajeitadas

Subindo rumo aos altos capitais da mente
Dentro de um carrinho bambo e desconexo
Perdendo a razão de vista, falhando o reflexo
Estavam as pequenas almas a se alvoroçarem

Apreensivas na íngreme subida
Deixavam as ideias assombrosas pelos trilhos
Aquelas pensadas pelo medo, pela morte, pelo mal
Fazendo morada nas mentes esgotadas

No topo, experimentavam o alívio
O alívio da calma de estar no topo e de estar só
E de ser seu o mérito, por ter enfrentado os fantasmas na subida
Ser seu o privilégio de encarar a descida
A descida suave da liberdade

A descida da montanha das ideias desajeitadas
Carregava os pensamentos de vitória dos que saiam
Os pensamentos de vitória dos que desciam
Juntando-os no loop da vida

Rápido, simples e intenso.
As almas viviam a descida da liberdade

A liberdade do vento a atravessar seus corpos etéreos
O vendo que carrega coisas ruins e também coisas boas
Porque a natureza e não faz distinção

A liberdade das ideias misturadas e do mistério
A mudança das almas no fim dos trilhos
Porque as ideias são pequenas sementes de transformação

As almas ainda eram cansadas, esgotadas
As mesmas um dia estiradas nas estradas, recolhidas das calçadas...
Deixadas por seus corpos cansados de viver

Eram as mesmas mas eram mudadas
Pelas aparelhagens desgastadas do parque das diversões esquecidas
A montanha russa das ideias desajeitadas
Que seus corpos nunca souberam entender.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Talvez Seja Isso Que Eles Chamam Viver

Eu estava meio nervosa. Era uma salinha escura. A única luz que a iluminava vinha de um lustre empoeirado, com aquelas lâmpadas que imitam as chamas de velas. As lâmpadas piscavam como naquelas casas antigas em que os aparelhos eletrônicos novos sobrecarregam a instalação elétrica ultrapassada. Um clima sombrio, não assustador, mas desconfortável, como se alguém estivesse à espreita. No canto havia um sofá, um pouco velho, uma mesinha de madeira escura avermelhada com alguns livros empilhados, um copo de água e um porta-retratos com um espelho no lugar em que costumam colocar as fotos. O assoalho, também de madeira, tinha sua maior parte coberta por um tapete manchado e revirado nas pontas. Parecia muito com uma sala de espera de um antigo consultório dentário. Eu nunca gostei muito de dentistas, na verdade fugia deles. Sempre muito limpos e sorridentes, me parecia sempre algo muito artificial, como uma cena cujo texto era repleto de palavras tranquilizadoras. É claro que ir ao dentista não era nenhuma sessão de tortura, , o que fazia a situação ainda mais desagradável, quase irritante. Por que tanto esforço para tornar tranquilizante e natural um ato tão trivial como uma simples consulta ao dentista?
Eu refleti enquanto observava o pequeno cômodo procurando adaptar minhas pupilas a pouca luz. Sentei no sofá e suspirei. Encarei a parede esperando por um chamado que não aconteceria. Afinal ninguém iria abrir uma porta e dizer “Senhorita, você já pode entrar, o Doutor está esperando” porque eu não estava em uma sala de espera. Onde eu estava afinal? Eu estava em algum lugar, entre quatro paredes escuras e duas misteriosas portas, e sim, eu estava extremamente desconfortável. Olhei ao meu lado e notei a pilha de livros. Alguns eram literaturas clássicas, havia uma coletânea de fábulas antigas também, um livreto de poesias, e um grosso caderno de anotações, todos com a capa um pouco suja e furada pelas traças.
Folheei o caderno me desvencilhando da poeira que, agora notava, tomava toda a sala, e percebi que cada página continha uma anotação diferente. A caligrafia era diferente, os escritos eram diferentes. Algumas eram apenas tópicos aleatórios como “Não se esqueça de sorrir sempre”, “Qualquer escolha será bem vinda” e “Estamos com você nessa  também”. Outras eram algo como cartas direcionadas de desculpas, de despedidas e algumas até de amor. Umas poucas estavam em branco, outras estavam riscadas somente, e outras ainda eram completamente cobertas com ilustrações de todo tipo. Era um caderninho muito bonito. Eu o fechei e segurei firme em minhas mãos, percebi que tinha começado a folhear do fim e que na capa estava escritos: Todos Devem Dar Sua Contribuição. Se não tens nada a contribuir, deixe ao próximo a reflexão de uma página em branco. A segunda frase estava escrita em letras menores, abaixo do que seria o título.
Talvez minha contribuição seja mais uma página em branco então. Eu não fazia a mínima ideia do que escrever. Na verdade eu ainda estava esperando que alguém me chamasse na pequena sala de espera, alguém saísse sorridente da uma das portas e dissesse: É sua vez agora. Eu estava um pouco disposta a arcar com as consequências de o sorriso ser uma encenação como nas salas de dentistas, mesmo que o que estivesse atrás da porta fosse algo realmente ruim. Eu sentia que qualquer coisa seria melhor do que tomar a decisão de abrir qualquer uma das portas, até porque sentia que isso era exatamente o que eu devia fazer. Estava me sentindo pressionada pelas hipóteses, como sempre. As hipóteses das consequências de uma decisão ruim.
Eu comecei a me encolher no sofá tentando me acomodar, ainda segurando o caderno, como uma criança assustada. Nenhuma posição parecia confortável. A lâmpada continuava piscando, irritando a minha mente um pouco desnorteada e bagunçando o meu reflexo espantado no porta-retratos: os olhos arregalados, o rosto rígido. Tentei ler algumas cartas do caderno, o lugar, porém, era muito escuro, e a tarefa de entender as letras desconhecidas só deixava a situação ainda mais inquietante. Abri uma página em branco e a encarei, procurando a reflexão.
Depois de um tempo encolhida no sofá em posição fetal, encarando a página que após tanto tempo já havia tomado várias cores diferentes, meu corpo começou a doer e eu senti necessidade de deitar e descansar. Abracei o caderno e deitei no tapete. Precisei me encolher um pouco para caber no espaço pequeno do chão da sala. Ainda assim era mais aconchegante que o sofá. Fechei os olhos. Aos poucos a minha respiração foi se acalmando, os músculos relaxaram e, esquecendo onde estava, eu adormeci.
Foi um sono sem sonhos ou pesadelos, perfeito para a situação em que eu estava. Não sei quando tempo se passou até abrir os olhos, mas ainda posso me lembrar da sensação de olhar para a o lustre balançando com suas lâmpadas a piscar. Eu me enrijeci e fechei os olhos, como se tivesse levado um choque. Amaldiçoei todos que pude e quando abri os olhos novamente nada havia mudado. Eu fiquei ali encarando o lustre, acompanhando os caminhos das lâmpadas, contando aquelas que já haviam se apagado. Fiquei ali por um longo tempo. O bastante para notar  um contorno retangular que revelava um tipo de entrada para o sótão. Eu não poderia descrever o que passou por mim naquele momento, mas de alguma forma eu me senti melhor.
Havia duas portas e eu não poderia escolher nenhuma delas sem ter uma vida inteira assombrada pela não escolha da outra. Eu sofri por isso e encontrei outra porta que estava aparentemente escondida. Talvez seja isso que eles costumam chamar de esperança. Eu não estava feliz, tinha certeza que os caminhos das portas misteriosas ainda me assombrariam, mas aquilo parecia simplesmente um chamado. Estava muito alto, porém. Eu não sabia se conseguiria alcançar. Eu subi em cima do sofá tentando alcançar o puxador, ainda assim não parecia próximo. Comecei a ficar um pouco desesperada, com medo de que eu não pudesse seguir o caminho do sótão. Arrastei o sofá mais para o canto, exatamente embaixo da porta oculta. Retirei as coisas de cima da mesa de canto, minhas mãos tremiam e eu derrubei parte da água que havia no copo no chão, molhando os livros. Coloquei a mesinha de canto sobre o sofá tentando achar algum modo seguro da engenhoca me sustentar. Subi no braço do sofá e então na mesinha, me equilibrando nas paredes. Minha cabeça tocou no teto e a altura parecia perfeita para subir no patamar acima. Eu estava tão aliviada que lágrimas corriam de meus olhos. Empurrei a porta para cima e, imediatamente fui cegada por uma luz muito forte que jorrava do cômodo acima.
A luz iluminava toda a salinha evidenciando ainda mais quão sombrio era o local.  A luz me desnorteou e eu soltei a porta rápido, perdendo o equilíbrio. Voltei para o chão um pouco absorta, tentando não ficar tonta. Olhei para o assoalho e vi o caderno de anotações. Eu estava me preparando para enfrentar a luz, decidida a seguir o caminho do teto. Sorri com a ideia de contribuir para o caderno. Procurei o lápis que estava sobre a mesa no chão e escrevi no meio da página destinada à minha contribuição: “Quando não se consegue escolher alguma coisa, alguma coisa escolherá você”. Pareceu mais uma daquelas frases já escritas quando terminei de escrevê-la, mas não importou pois fazia sentido pra mim.
Escalei o sofá velho, e então a mesinha, fechei os olhos e empurrei a porta. Subi para o patamar superior. Deitei no chão do sótão, estranhei, parecia grama. Tateei ao lado e senti apenas mais grama. A luz intensa atravessava as pálpebras formando espectros iluminados na parte interna dos meus olhos. Eu me levantei e os abri. Estava em um imenso campo de flores, de todas as cores e tipos. O sol estava forte mas já se punha no horizonte, pintando o céu de várias core. Um vento leve balançava as flores e os meus cabelos. Era tão bonito que naquele momento eu pude esquecer qualquer caminho que qualquer porta pudesse ter me levado. Eu ria freneticamente, como nunca antes. Ao longe escutei uma voz a chamar meu nome.
“Onde você estava todo esse tempo? Estávamos todos te procurando.” disse a voz. Eu observei intrigada, não sabia quem era aquela pessoa a me olhar. “Pare de me olhar com essa cara e venha logo. Agora que já assustou a todos, pode voltar. Até porque, já é hora do chá. Fizeram aqueles bolinhos que você gosta.” Eu consenti com um sorriso e a voz me puxou pelo braço. Enquanto caminhava olhei para trás procurando algo, mas não lembrava o que. Também não me importava. Continuei observando o pôr do sol enquanto era guiada pela minha voz amiga até o lugar onde todos me esperavam. Talvez seja isso que eles costumam chamar felicidade então.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Era Apenas Um Teste Do Vento

Eu só estava pensando que talvez
Talvez o vento
Só estivesse lá para carregar as folhas
De leve
Fazendo aquele barulho reconfortante

O vento só estava lá para testar sua mente
Movimentar sua vida
O vento

Correndo, as pessoas estavam correndo
Correndo do vento
Que carregava as folhas de leve
Fazendo aquele barulho reconfortante

Poucos notaram o barulho do vento
Entre a buzina dos carros
Carregando as folhas, de leve
Poucos notaram

Eu, entretanto, perdi o horário
Porque fechei os olhos e me teletransportei
Com as folhas
De leve
No vento
O barulho
Reconfortante

Então eu respirei fundo
No vento
O barulho
Mas então COF COF

Eu tossi
Com aquela fumaça de cigarro
Aquele barulho das buzinas dos carros
Aquele cheiro de esgoto
A atmosfera cinza
Densa
O barulho?

Então eu corri
Como as folhas
Para não me atrasar
Não me atrasar para a vida

COF COF
Fez o fumante no ponto de ônibus.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Concha

Senti uma coceira perto do pescoço
Era o novo querendo entrar no meu pensamento
Todo bobo dizendo que trazia luz
Menti dizendo que não precisava
Quando na verdade não o queria
Eu mesmo estava no escuro
No escuro eu me encontrava

Eu estava meio tonta com o tempo
Que me trocou pelos fogos do momento
Rancorosa, construí um muro
Me encolhi e me escondi.
Eu vivi ali feito ermitão
Me alimentava das migalhas do chão
Os pássaros jogavam por gratidão

Pássaros eram amigos
Eu os deixava se esconderem atrás do muro
Quando os estilingues eram muitos
Eles eram meus olhos
Eram proteção além do nada
O nada era o lado de fora
Pois o dentro de nós é sempre maior e mais curioso

Enquanto os outros exploravam o nada além do muro
Eu descobria os calabouços dentro de mim
Havia alguns campos de flores e alguns parques
Porque ninguém vive de trevas até o fim

Nunca apareceu nada além dos pássaros
Do nada de fora nada veio e assim foi sendo
Nunca precisei ver além dos muros
Para saber que, tolos, todos estavam morrendo

Um dia os pássaros não vieram mais
Migalhas não mais caíram do céu
A fome veio e notei
Que era tempo de descansar
Sem olhar além da muralha
Deitei minha cabeça e esperei faltar o ar

Nunca quis ver o lado de fora
E não havia porque de no fim mudar
Dentro de mim eu era suficiente
E foi assim que resolvi terminar

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Bem vinda, culpa.

Na enorme e angustiante maioria do tempo eu sou inteiramente culpa e medo. Uma carcaça errante cheia culpa e medo de errar e sentir mais culpa e culpa e culpa. Assim, num circulo vicioso. Um ciclo conturbado de culpa e medo em que os passos são calculados e os sorrisos comedidos.
Como a maioria das coisas que se carrega por muito tempo, não me lembro quando, nem como adquiri tanta culpa dentro de mim. Só sei que se acumulou e com o passar dos dias acabei me acostumando. A culpa se tornou uma grande amiga. Uma amiga que me reconforta num abraço frio e melancólico de mim mesma. Como se, em baixo de uma cachoeira fria em um dia nublado, eu aconchegasse meus braços ao redor do meu próprio corpo e fechasse os olhos. Frio e melancólico. A culpa conforta, por ser só sua. Intrínseca. Mesmo que vários outros a tivessem alimentado e criado. Ela é só sua. Os transeuntes da vida não a podem tirar e tomá-la pra si. No meu caso, não podem nem ao menos ver. Não há motivos pra mostrar-lhes minha culpa. Já que esta é apenas minha. A minha culpa.
A culpa faz com que a vida seja uma busca eterna para se tornar útil, fazer-se bem vindo e confortável já que, de outra forma, tudo que se é não passa de um grande estorvo humano. Um corpo que se move na direção do nada, um corpo que os outros corpos suportam apenas por serem iguais. Ninguém quer se sentir lixo ou lama ou lixo na lama ou lama no lixo, um vazio de nada. Ninguém quer. Eu não quero. Eu não devo. Eu não posso.
Foi caminhando pela vida comum, carregando minha enorme culpa, que eu encontrei o medo. Isso foi há muito tempo. Ele me acompanha desde então. O medo e a culpa se dão bem. Parecem completos. Eles riem juntos, fazem brincadeiras, se divertem fazendo um alvoroço dentro de mim. Mas eu continuo quieta, porque a culpa, ela é minha, somente minha. E o medo? Bem, ele é amigo dela. Eu gosto que a culpa fique confortável. Por isso deixo o medo a lhe fazer companhia. Bem aqui, dentro de mim. 
Talvez se alguém disser as palavras certas e olhar bem fundo nos meus olhos, talvez assim, poderá ver a culpa lá dentro. Dentro de mim. Se examinar bem o meu semblante pálido de fina expressão, poderá ver o medo. No meu respirar calculado, no sorriso comedido, no estado de quietude, ali está o medo. A culpa que o trouxe. Eu deixo o medo ficar porque ele a faz companhia. Eu gosto de deixá-la confortável. Afinal, a culpa, ela é completamente minha.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Canto de Pássaros

Amanheceu novamente e ela sorriu
Sorrisos de quem já havia desistido um dia
Porque as flores murcharam num passado esquecido

Mas era tarde para dizer
E agora ela podia sorrir ao se lembrar
Pois algo mais havia brotado
Real o bastante para se tocar

Então ela sorriu nos pequenos detalhes
Nas palavras soltas quando estavam ambos tontos
No entrelaçar dos dedos e no esquecer dos medos
Nos refúgios de palavras que podia buscar

Ela sorriu sinceramente
Sorriu para o sol e para o frio cortante
Agarrando firme a nova felicidade
Porque, enfim, era verdade.

domingo, 22 de julho de 2012

Uma Alma e Um Coração

Eu dormi por muito tempo. Um longo tempo e sem saber. Sem saber se era um sonho, um sono conturbado ou uma vida. Eu sonhei com flores e pássaros, com o amanhecer e o anoitecer. Sonhei com sorrisos e risadas, vozes doces e melodias de ninar. Mais tarde, quando já acordada, me disseram que eu sorria enquanto dormia e era bonito. Disseram que meu rosto se iluminava como nada mais costumava se iluminar e que, quando acontecia, a única tristeza do momento, era não poder ver meus olhos brilharem também. Foi ele quem disse tudo isso. Um pouco depois de colocar suas mãos, frias demais, em meu rosto. Um pouco depois de falar com aquela sua voz, ainda sem vida. Um pouco depois de eu abrir os olhos. Um pouco depois de me contar como tudo havia acabado.
- O que aconteceu?
- Você descansou. Por alguns anos.
- E o que eu perdi?
- Você perdeu tudo.
- Como assim... Tudo? Eu não posso ter perdido tudo... Posso? – Eu disse, já com lágrimas nos olhos.
- Não chore. Talvez tenha sido melhor. Tudo se perdeu por si só. Seu coração não aguentaria assistir ao modo como as coisas todas se esvaíram, muito menos sua alma. Você nunca conseguiria sobreviver ao choque do mundo escorrendo de suas mãos, essas mãos humanas e controversas.
- Meu coração, onde está?
- Está no vidro. Está aqui.
Ele tirou um cubo vítreo de dentro do compartimento interno de seu corpo de metal. Dentro havia um coração. O meu coração. Pulsava e pulsava, forte e vívido enquanto eu, contraditoriamente, me sentia fraca. Nada parecia fazer sentido. Eu olhei para os lados, confusa, pisquei os olhos e reparei na sala branca, vazia, exceto pelas flores. Havia muitas delas, com várias cores e aromas.  Eu sempre gostei de flores. Flores da Terra. Respirei fundo, bem fundo, fechei os olhos mais uma vez e senti a beleza dos meus sonhos.
- Eu sei que você está confusa, mas não há nada a ser feito. Abra os olhos, por favor, eu estou há tempo demais sem vê-los.
Ele colocou o meu coração sobre o criado mudo, em meio a algumas flores, e segurou a minha mão. Eu estava relembrando os campos de girassóis pelos quais havia corrido em meus sonhos. Eu estava sorrindo para os sorrisos que estavam lá, nos sonhos, quando notei que não os veria mais, nunca mais. As lágrimas se multiplicaram e, com o abrir dos olhos, escorreram suaves pelo meu rosto pálido e quieto.
- Não chore, por favor. Eu ainda estou aqui e trouxe flores, você sempre gostou de flores. Talvez seja pouco mas é tudo que temos: um ao outro.
- Como eu posso não chorar se todos os outros se foram? Eu não pude fazer nada. Estava dormindo e não lembro nem o porquê. A última coisa que me lembro é de trocar meu coração pelo... Isso é tudo culpa minha, não é? Todos morreram porque eu não pude aguentar a vida na Terra... Foi tudo culpa minha! – E então eu chorei. Chorei todas as lágrimas que se abrigaram em mim nos últimos anos, todas as tristezas que evitei enquanto não vivi. Ele ficou ali. Deixou-me chorar e me sentir viva. Há quanto tempo isso não acontecia?
- Nada é culpa sua. Nada. Eles estragaram tudo, sempre estragam tudo. Todos eles. Você trocou seu coração pelo simples abrir dos olhos de todos eles e eles jogaram fora. Esse lugar nunca foi para você. Essa tarefa nunca foi sua. É por isso que estou aqui lembra? Para cuidar de você porque não sou...
- Porque você não é como eles. Porque você é de metal. Porque você não tem coração.
- Na verdade, eu um tenho agora. Eu tenho o seu. Todo esse tempo em que você dormia eu podia sentir o pulsar do seu coração humano, já que você não precisa mais dele.  Eu podia sentir. Foi importante esse tempo todo. Eu nunca soube quando você acordaria e um coração a pulsar sempre nos dá esperanças. Acredito que isso ajudou as flores a se colorirem com mais vigor também.
- São lindas. Fazem parte das coisas bonitas que crescem aqui. Então eles se foram? Todos. Até os que eu amava?
- Você amou gente demais. Eles nunca mereceram. Você sempre soube. Agora ninguém mais poderá estragar as flores ou o céu e todas as pequenas coisas de que você gosta. O mundo continua todo ali fora e ninguém mais pode estragá-lo. Ele é seu de verdade agora. Venha ver.
- Eu posso ver?
- Claro! Você estava apenas dormindo. É preciso descansar depois de se desligar de uma vida dessa forma. Várias vidas, no seu caso. Venha.
- Mas eu não preciso do meu coração?
- Você tem uma alma. Foi sempre tudo que precisou. Eu vou guardar seu coração aqui comigo. É quente e cheio de bons sentimentos,  tudo que eu sempre precisei.
Eu me levantei da cama e senti aquele vazio de quando não se tem um coração. Eu já havia sentido isso algumas vezes, quando o coração ainda estava comigo. Todas aquelas vezes em que os dias se arrastam e as pessoas passam pela sua vida como sombras e vultos. Havia um sol brilhando na janela e iluminando toda a sala branca. O sol refletia no homem de metal, que me ajudava a ficar de pé, aquele que eu havia criado para que pudesse cuidar de mim, já que eu estava sempre cuidando dos outros.
Agora, porém, não havia outros. E tudo que podia ser feito estava feito. Não havia culpa sobre os ombros, obrigações ou cobranças. Eu sorri e levantei minha cabeça. A minha alma inundou meu corpo, um pouco dolorido, um pouco mole. Só mais um corpo humano, demasiado fraco. Encostei meu rosto no metal gelado e senti o calor do coração pulsante enquanto o homem me carregava no colo através do quarto por entre as flores. O planeta continuava igual e estava lindo. O céu estava azul e a grama verde.
- Continua lindo. O que houve com eles, eu digo, o que realmente os fez sumir?
- Implodiram. Não suportaram a dor de descobrir o mal que haviam feito a todos ao seu redor e a si mesmos. Quando você os abriu os olhos, eles não aguentaram a podridão da vida, do mesmo jeito que você.
- Uma última pergunta: eu não desisti dessa vida quando troquei meu coração pelo “abrir dos olhos”?
- Sim. Mas eu tomei a liberdade de fazer alguns ajustes no seu corpo. Achei que não se importaria já que fui criado para cuidar de você. Sendo assim, eu só estava fazendo meu trabalho.
- Você faz muito bem seu trabalho e eu fiz muito bem o meu.  Me parece que os papéis se inverteram agora. Acho que  você é o dono do coração pulsante e eu apenas restos de algo que você fez viver. Não é irônico?
- Não acredito que seja ironia. Acredito que seja apenas a vida mostrando como ela sempre quis que as coisas fossem. Coisas grandes e boas levam a coisas maiores e melhores. Não vejo como poderia ser diferente.
- Acho que eu poderia viver assim.
          Foi o que eu disse, quando o sol já se punha. Eu disse isso e notei onde estava e como estava, era real e então eu sorri. Sorri daquele jeito que as pessoas costumavam sorrir enquanto fingiam viver quando apenas sobreviviam. Daquele jeito como quando no meio do fingimento, viam vida de verdade e se surpreendiam. Bem daquele jeito, eu sorri. E não havia, absolutamente, nenhuma surpresa no ato.

domingo, 8 de julho de 2012

Mau Conselho

Vamos acomodar nossos braços
Cruzados um sobre o outro
Vamos acomodar nosso cansaço
Espalhado por todo corpo

Vamos acordar sorrindo em um dia chuvoso... e dançar!

Vamos nos despedir dos olhares tristes
E comemorar o encontro dos astros
Vamos nos abraçar no dia do eclipse
Aproveitar os minutos pois o tempo é escasso

Vamos deitar na grama em um dia ocioso... e sonhar!

Vamos guardar nossas conquistas
Em cofres de chumbo e jogar ao mar
Libertar nossos sonhos da mente profunda
Gritar e gritar, mas não os realizar

Vamos apenas transparecer... sem viver.
Porque essa é a tendência atual
E se cansamos do normal...
Apenas tente o próximo canal.

Vamos nos deitar na hipocrisia do dia-a-dia
Sem mexer braços ou pernas
Dar dicas de voo ao pássaro
Arrancando-lhe as penas.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Passo Em Falso

Eu olho pra frente e vejo apenas borrões de futuro
Porque troquei toda uma vida de expectativas
Por raros segundos espaçados de silêncio
(Alguém lembra quando foi?)

Talvez nem seja saudável
Mas o ritmo da vida me carregou sem que eu pudesse lutar
Já que estava muito ocupada sendo feliz

Hoje eu caminho pelas ruas e vejo nos olhos dos outros
Que viver uma mentira é a forma mais fácil de sorrir
E aqueles que um dia disseram que devemos tentar mudar o nosso mundo
Estavam certos em colocar essa responsabilidade nos ombros dos outros

Eu sei que carrego mais do que a minhas próprias expectativas
Eu sei que carrego os desejos daquelas pessoas que me dão a mão
E o peso desse todo que fica inerte sobre mim
É tão, tão grande, que é quase impossível se mover
É quase impossível respirar

E quando se deixa transparecer
A real incapacidade de segurar tantas expectativas
As pessoas ao lado se demonstram decepcionadas
Fazendo o peso que se carrega nos ombros
Migrar para a consciência, já sem espaço
E devastar a mente, já conturbada

Dizem que o futuro é o que se faz do presente
Mas dizem também que devemos viver o presente
Sem se preocupar com futuro
Dizem que você deve fazer o melhor pra você
Mas dizem também que é preciso pensar nos outros

No meio de tudo isso eu me encontro estática
Calculando as consequências dos passos
Chegando a conclusão que é melhor não se mover
E não correr o risco de perder o equilíbrio

domingo, 10 de junho de 2012

Célebre

Meu céu de diamante rachou
E choveram cacos a me perfurarem os olhos
Os digníssimos verdadeiros cristais
Mataram meus sonhos de açúcar e nada mais

Revelando as soberbas de um passado alternativo
Os viveiros imundos dos meus medos confundidos
Tão distantes os universos na película difusa
O filme da vida que reclama sua personagem tão confusa

Quando desistir das passadas do relógio parece fácil
Pois sob os cobertores do sossego, há apenas um sono leve
Abrir os olhos, contudo, é um ato de coragem
Enxergar a vida de punhos fechados sem ser uma miragem

Os punhos fechados dos homens que nos ordenam
Os olhos cerrados dos carrascos que nos rodeiam
Os sorrisos amarelos dos anjos que nos deixaram
Os suspiros gelados dos pares que nos abandonaram

Estamos seguindo a multidão por trocos
Arriscando-nos em uma corrida no meio fio
E os carros que passam na estrada
Carregam apenas almas

Estamos perseguindo uns aos outros
Em um caos fechado, sem desafio
E os cacos que caem na nossa cara lavada
Deixam apenas almas

Num singelo ato de vida sóbria
Sabendo que os que vinham me viam como louca
Eu jorrava sabedoria pelos poros
E vomitava mentiras pela boca

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Estrelas Eram Seus Olhos

Houve um tempo em que os giros do planeta
Influenciavam o modo como os pensamentos fluíam
Um ser solitário esperava a volta de um cometa
Caminhando sob um céu escuro em que as verdades ruíam

Houve um tempo em que
Palavras eram ditas, sem serem atropeladas
E sonhos eram vividos, sem serem interceptados

Houve um tempo bom
Há um bom tempo
Mas então, houve um borrão
Causando um grande enorme tormento

Muitos correram contra os dias
Sem contar as horas
Tentando voltar a um passado
Em que eram possíveis boas vitórias

Mas somente um ser foi capaz de recomeçar
Porque seus pés eram presos ao chão
Mas sua mente era presa ao ar
Nos céus, onde não havia borrão

Nos céus nunca houve mudanças
Que pudessem atormentar
Nos céus não existiam dilemas
Nem problemas com que se preocupar

Nos céus só brilhavam estrelas
Giravam planetas
Corriam cometas
Para viajar

domingo, 27 de maio de 2012

Espaços

O maior erro talvez
Seja querer ver o mesmo sorriso
Em todos os rostos
E escutar as mesmas palavras
De todas as bocas

Espalhar a felicidade pelo ar
E esperar que todos a guardem pra si
Pois só é preciso respirar

O maior erro talvez
Seja acreditar que as pessoas podem ver
Tudo aquilo que um dia foi visto
E sentir tudo o que foi sentido
Porque isso tudo é apenas
Demasiado intenso e maravilhoso
Para ser só seu

Talvez o erro seja querer
Que todos sejam felizes
Inalem a própria felicidade
Aquela que combina com quem tem
Porque poucos conseguem

O erro é  também querer
Que outros absorvam
Uma felicidade que é sua
E que ninguém mais além de você
Conseguirá entender

Nem tudo que se respira pode ser absorvido

terça-feira, 15 de maio de 2012

Uma Tela de Coragem

Completei minha xícara de café e me coloquei diante da janela. A tela branca perfurou a paisagem do pôr do sol nas montanhas enquanto as tintas se misturaram ferozes na paleta. Ainda havia muito tempo para pensar. Haveria outras telas e outras paisagens do crepúsculo. Haveria outra eu, em algum lugar. Mesmo que a vida não contribuísse para que todas essas coisas se encontrassem um dia. Mergulhei meu pincel na tinta e pensei de quantas formas o vermelho intenso poderia se dissipar em arte. Perguntei-me se eu teria coragem de fazê-lo molhar o branco.
Há muito tempo a coragem me fazia perguntas. Ela entrava nos aposentos onde eu estava e me encarava austera prevendo meu próximo ato covarde. Sempre me observando, nunca tomando conta de mim. Seus desejos de libertação me enchiam de esperança inundando minha mente de possibilidades. Quase um universo paralelo. Tão próximo e tão impossível. A coragem ditava o ritmo e movia meus pés. Mas nunca falava por mim. No fim, era eu e quando era eu, era sempre o fim. Mãos mortas acompanhando o corpo na vertical, palavras mudas, olhos vagos, baixos, covardes, pedantes, tristes...
Eu sei que a coragem não vem de fora. Apesar de estar fora pra mim. Eu sei que aquela coragem que me observa, não é minha. Ela não é nada. Eu sei. É um vulto de possibilidades. A minha própria coragem ainda está perdida dentro de mim. Às vezes ela se revela em choro de indignação, em pensamentos histéricos, desejo de auto-afirmação, desejo de... vida. Mas só às vezes. Quando não, eu encontro apenas o vulto que me encara, mostrando-me tudo que se pode ser quando se tem coragem de enfrentar o mundo.
A minha própria coragem, no entanto, ainda é tímida. É ingênua e inocente. Derrapa pra dentro de mim e me deixa oca, sem saber como agir, porque não há impulso em mim para o que é do sentimento. Então eu mesma caio dentro de mim e me deixo fraca. Perdendo a essência do meu ser. Voltando as aparências... Aparência de quem está satisfeita.
A falta de coragem faz com que as pessoas concentrem-se no habitual. Então a vida passa e lembramos que poderíamos ter sido mais ousados.  Tomei minha xícara de café, concentrando-me no que me é comum. Coloquei-me diante de mim em pensamento: a arte. As tintas se misturaram rudes na tela que não se encaixava na paisagem. Eu separei minha mente da minha mão e o pincel tomou coragem por si mesmo.
Haveria outras telas e outras paisagens do crepúsculo. Todas elas se encaixariam na janela. Notei, porém, que nenhuma delas se encaixaria em mim. Mergulhei minha mente na imagem sem sentido ali em frente. Pensando que talvez aquela arte, na verdade, fosse eu quando imersa em meus pensamentos. Perguntei-me se um dia teria coragem de ter coragem outra vez.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Resoluções do Entardecer

Não se trata de fingir
A questão é sobre o que é importante
Sobre qual verdade vamos deixar se afogar
Sobre o mito do certo e do errado
Sobre o que decidimos deixar de lado

É uma longa jornada
Com milhões de passadas
E entre os rastros é necessário
Deixar mais do que apenas suor

É necessário deixar algum sangue
Alguma lágrima
Alguns conceitos imutáveis

É necessário retroceder
E voltar ao início
Sem remorso

Um dia ou outro antigo ciclo recomeça
É raro observar sem participar do tal
O grande repousar dos perdidos

O sol se põe majestosamente
Há um quê de mudança em torno das nuvens
Um cessar de esperança no mover das curvas
A natureza está aberta a negociações

terça-feira, 1 de maio de 2012

Dias Espaçados

Pensamentos são os furacões que movem meus atos
Mas o que eu digo são apenas os objetos que o vento não pode carregar
E mesmo o que eu faço é só um pouco de tudo que eu ousei pensar

A minha mente é cheia de lembranças que nunca aconteceram
E quando de repente eu posso tornar tudo isso real
Eu sinto a fraqueza da minha coragem, algo já natural

Estranho como tudo pode estar bem
Em um terremoto de verdades irritantes
Em um deslizamento de atos tão errantes

Um quase real viver
Porque a vida sempre continua
Num comportamento linear
É apenas difícil coincidir seus desejos
Com a impossibilidade de errar

Estando presa entre os fins e os começos
Sem se recompor entre tantos tropeços
É quase noite, o céu desaba
Um passo atrás, o mundo acaba.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ouvi Sussurros Sobre Esse Fim

Uma bomba estourou no vagão atrás de mim
Eu ouvi gritos desesperados
Eu vi corpos despedaçados
Sonhos dilacerados

E então tanto fez como tanto faz
Um dia a menos ou um dia a mais
Se tudo passa como uma lista de afazeres
E a real vida está incompleta

Então não importa o amanhã
Porque nesse momento a voz falha
E a vida corre sem alguém para viver nela

Porque em um minuto eu estava sentada rumo ao centro
De uma cidade amaldiçoada
Porque todos sabem do rumo que será na estrada
Mas ao menos o céu estava colorido

Então tudo resolveu explodir ao meu redor
E apenas o som do meu passado ecoou antes do boom
Coloquei minha cabeça entre os joelhos
E senti o cheiro e o breu de viver uma mentira

Me deixei perder todas as forças
Perder levemente os sentidos
Me deixei ver turvo
Me deixei cair sobre os escombros
Deixei que me levassem o peso dos ombros

Me deixei morrer e ser resgatada
Me deixei ficar tonta e nauseada
Me deixei ter a sensação se nascer de novo

domingo, 1 de abril de 2012

Vento Frio

Lembro-me que foi num dia de domingo
Em que eu acordei na hora errada
Abandonei todos os meus planos
E observei a vista da sacada

Lembro-me que apesar de tudo
Ainda acreditei que a semana seguinte
Poderia ter gosto de sorvete e caramelo
O céu estava estonteantemente belo
As nuvens pareciam cantar

Eu vestia aquele moletom velho que você me deu
E a xícara de café ainda estava quente
Nos meus sonhos você estava presente
E um sorriso nos lábios foi tudo que consegui mostrar

Foi um pouco árcade demais, confesso.
Mas era tão feliz que não liguei para o resto
Os poucos interessados a me intrigar
Sobre quão mudada eu parecia estar

Felicidade é uma coisa meio ausente
Quando aparece assim, de repente,
É preciso segurá-la firme num abraço

Às vezes temos que correr muito até achá-la
Atravessar penhascos e mares de escuridão
Conter toda a euforia, manter os pés no chão.

domingo, 25 de março de 2012

Uma Vista das Montanhas

Houve um tempo em que eu escrevia para fugir
Agora fujo pra escrever e nem isso me basta
É triste ler o que um dia foi e perceber que sente falta
Enquanto tudo passa como uma nuvem num céu cor de prata

Às vezes, quando as lembranças parecem brilhar,
Entendemos que talvez viver não seja uma total perda de tempo
Então paramos de rodar como robôs
E corremos contra o vento

Apenas para sentir a brisa encontrar os nossos sorrisos
Apenas para saber que existe mais do que sua rota diária

Às vezes derrotamos os fantasmas do passado
Com caminhos para o futuro
Um lugar ainda obscuro
Porque somos tolos com as esperanças

Corremos em busca do nada
E quando a mente se torna perturbada
Colocamos nossos óculos escuros
Então ninguém poderá nos ver chorar

É ruim estar confuso
Mas o mergulho em parafuso
É o que faz a corrida valer a pena

É claro que o mundo está difuso
Mas o relógio continua em uso
E a vista ainda pode ser plena

sábado, 24 de março de 2012

Escolhas

Era noite quando percebi que havia algo de errado
Porque a terra que sujou os meus pés
Não era a mesma em que enterrei meu passado

No fim da estrada uma luz guiou minhas esperanças
O sol se abriu e coloriu os destinos, fazendo mudanças

Uma mão suave encostou a minha
E eu me sentir segura
Talvez isso não seja um sonho então

Eu sei que na verdade não estou sozinha
Mas sou eu quem decide se a vida vai ser dura
São meus pés que devem ficar perto do chão

Mesmo que a lua acalme meus medos
Ela não estará lá para sempre
Mesmo que o sol reacenda meus anseios
Ele descansa nas noites solitárias

Uma verdade é sempre uma verdade
Real e imutável

Uma mentira é sempre uma mentira
Sem sentido e deplorável

Foi então que tentei mudar as cores do meu céu
As estrelas causaram alvoroço nos olhos dos outros
Então eu registrei meu sucesso em versos num papel

quinta-feira, 22 de março de 2012

Ronda

Os dias se arrastam como corpos jogados
As semanas correm como os pensamentos perdidos
Nossos olhos estão drogados
Com nossos futuros pré-resolvidos

Estou correndo contra meu próprio sentido
Viver é respirar e dar alguns passos rumo à felicidade
Que jamais chegará, nós sabemos
Viver é esperar por uma ilusão diferente a cada dia
É contemplar a agonia de olhos fechados

Eu quero tentar o novo
Mas é incerto e perigoso

Perder o chão nunca é proposital
Mesmo que aconteça a todo tempo
Assim como a culpa é um sentimento externo
Que machuca por dentro

Vede os seus olhos
E escute seus passos rumo ao céu
Sons nos fazem mais humanos

sábado, 10 de março de 2012

Um Fogo Entregue À Neve

Do céu ao inferno
E ao mesmo tempo
Do inferno ao céu
É assim que me sinto

Porque ambos estão
Dividindo espaços
Em minha conturbada mente
Meu fiel labirinto

Sobriedade é tudo que não quero ter
O que esperam é tudo que não quero ser
Porém é isso, justamente, o que sou
Contudo é isso, simplesmente, o que tenho

A impressão sutil de liberdade
Ronda os meus sorrisos
Enquanto estou presa à culpa
E às expectativas dos outros
Eu me entrego à luta
Meus desejos são sobrepostos

Sem chão
Ou sem teto
Meu estado aparente desaba
Por se achar muito esperto

Mas é cego e escolhe os planos errados
É esperançoso e confia nos outros em demasiado

Não sou eu, entenda...
São os vários “eus” que me cercam
As várias vozes que me falam
Os vários fantasmas que me encaram
E todos os anjos que se calam.

domingo, 4 de março de 2012

Passos e Cacos

Por que estamos sendo racionais em um mundo tão selvagem?
O minuto que se pensa é o mesmo em que tudo ao redor nos devora
Porque o ar é denso demais

Então nós respiramos fundo
E sentimos todas as verdades corroendo nossos sonhos e esperanças
Tornando o simples viver um desejo que se deteriora
Porque o ar está cheio das mentiras que deixamos para trás

Caminhamos e nossos passos são baseados em promessas traiçoeiras
Que estão sendo violadas
Choramos e o que sentimos está sendo perdoado por pessoas passageiras
Que já estão habituadas

Rode o disco mais uma vez
E ouça o som dos que acreditam
Diga aos outros que não é certo

Vire a página e perdoe outra vez
Todos aqueles que se limitam
E ignoram o que está perto

Tão perto que queima

Porque estamos contando os dias para viver
E quando vivemos, vivemos para contar os dias que ainda temos
Porque na verdade estamos todos cegos

Cegos ao ponto de não termos coragem
De admitir um erro humano
Sobre viver como se a vida não fosse uma miragem
Como se o amanhã não fosse um mero engano

quinta-feira, 1 de março de 2012

Bilhete De Entrada

Bem vindo
Estou apenas subindo os degraus
Não me incomode
Eu perco fácil o equilíbrio
E despenco no caos

Eu disse que isso seria difícil
Mas tudo bem eu nem estar preparada
As pessoas estão circulando a minha vida
Eu continuo estaticamente parada

Um dia veio
A noite foi
Eu permaneci

Minha mente ficou
Esgueirou-se pelos cantos dos sonhos
Perdeu seu tempo nos meus pesadelos
Voltou sozinha para o fundo
O fundo de tudo que vejo e penso e imagino e almejo

Uma noite veio
Eu acordei
Não era um sonho

Estou aqui subindo os degraus
Mas não se incomode
Se eu perder o equilíbrio
E despencar no caos

(acontece sempre)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ponto De Vista

Eu adoraria poder simplesmente escrever
Descrever o ressoar do relógio
Em torno da minha vida conturbada

Eu queria conseguir em versos
Tudo que consigo em pensamentos
Trocar os nomes perversos
Dos irritantes sentimentos

Eu adoraria compartilhar
Todas essas coisas boas
Que me envolvem
Cada manhã ao acordar

Eu queria conseguir trocar
Os meus dias de saudade
Pela felicidade do simples estar
Junto, em algum lugar

Eu queria colorir os desenhos do meu céu
Escrever tantas e tantas rimas em um papel
Apenas pra poder dizer
Que eu fiz tudo isso valer

Eu queria poder voltar no tempo
E assistir ao filme francês da minha vida
Conversar com os personagens na saída
Em um cinema qualquer na minha mente

Eu adoraria poder simplesmente escrever
Contar os dias para o próximo abraço
Em uma tarde ensolarada

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Ditado Em Constelações

É um rio que corta a ladeira
Desaguando vida na beira de um cais
E todos aqueles que um dia sonharam
Embalam o sono dos meros mortais

Não é saudável compreender o universo humano
É desagradável se ver em meio a tanto engano

Notáveis se veem como iguais
Medíocres se veem como algo mais

Em meio a suas lutas contras as forças da natureza
Querem dissertar sobre lógica
Querem argumentar sobre razão

Estão cegos de medo da suprema beleza
São pequenos demais diante de tamanha mágica
O som que embala a ordem, no caos da imensidão

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Colapso

Forte e perigoso
Meu novo eu sorri ao longe
Estou presa nas minhas indecisões
É tarde para definir novas sensações

A madrugada me abraçou
Não havia ninguém lá
Foi tenra e nobre
Ao me deixar levar

A manhã acordou-me sorridente
Eu estava bem e de tão bem estava quente
Eu estava viva e de tão viva estava oca
Todo o eu que existiu saiu pela minha boca

A vida me tirou a razão que me tirou o sonho e eu fiquei assim

Vazia em todo o meu coração
Triste sem ter meu digno fim

Hoje, eu estou sozinha
E a vida que era para ser minha
Esvaiu-se pelos cortes da minha alma

Ou se tem vida
Ou se tem alma
Ou se tem razão

Se te tem tudo
Tu não vives
Porque vida é agonia
Porque vida é decepção.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Cores De Um Dia Claro

Um segundo de calma
E eu esqueço o seguir simples das rimas
Um passo em falso
E eu procuro os sentimentos nas esquinas

Correr, correr e afastar-se
O sol claro e sorridente arde
Pede passagem e louco me invade
Onde estão meus filtros?

Peço ajuda ao suporte do meu ser
Levo embora minha vida, sem querer
É longe do vazio, o meu existir
Sou cheia de mim e assim não sei mentir

Um abraço seguro é o meu sono
De noite quando paro eu canto
Admirada com os dias, tão belos
Que seguem e me enchem de encanto

Ainda tenho uma sólida insegurança
Um medo óbvio do diferente
Mas é além ...E é tão presente
Minha mais bela lembrança

Incoerente é o que é
Esse meu medo de criança

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Recato

Eu caminho na esperança de encontrar-te
Assim, pela vida
Dividir, por fora, sorrisos comedidos
E, por dentro, uma necessidade de aconchego.

Escrevo para encontrar-te em palavras
Ao som do mais puro respirar
O erguer das espadas
Gritando vitória

Eu preparo meus ouvidos
Para a sua volta
E para a minha revolta
Em torno da nossa dança

Estar longe pra perceber
Que te preciso mais do que te tenho
E que esse é meu mais puro segredo
Um segredo que preenche a minha alma

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pare

Há uma nuvem de pensamentos
Rondando nossas vidas imundas
Existem muitos caminhos isentos
Mas nossas faces estão turvas e confusas

Caminhe, é o que eu digo.
Mas é tão fácil falar
Estou vendo seus pedaços caírem
Estou me curvando a todo o momento para juntar

Eu não me importo
Porque é apenas um fato
Eu faço reverencias ao sol
E reafirmo o nosso contrato

As correntes já quebraram
Eu sei que estou livre
Mas a liberdade custa caro
Esse é o modo que se vive

Eu me encolho em terra
Para ser recebida no céu
Há uma chuva passageira
É uma passagem, um véu

Colori meus olhos
Mas porque voltar a enxergar
Está frio por entre os cacos
Talvez eu nem queira voltar

Dizem que os primeiros passos são definitivos
Os últimos são apenas uma conseqüência
Mas não faz sentido nesses tempos
Vivendo um eterno estado de emergência

domingo, 29 de janeiro de 2012

O Paraíso de Um Dia e Uma Noite

Era uma manhã fria e chuvosa e o bonito casal entrelaçava suas pernas por entre os cobertores quase como uma dança lenta e sentimental, sem, no entanto, desmanchar o abraço passional que os envolvia. O sol iluminava o quarto por entre as cortinas em tons fortes de vermelho e laranja, uma luz tímida e sem muito efeito, com os raios encontrando brechas entre as nuvens em um céu nublado e cinza. Muito adequado ao momento.
Nenhum dos dois estava interessado em deixar o pequeno apartamento no subúrbio calmo, quase escondido, na grande cidade de arranha-céus. Na verdade, relutavam até mesmo com a idéia de sair do aconchego da cama, do mundo perfeito que eram os móveis do quarto envolvidos pela felicidade, quase ingênua, daqueles dois seres, perfeitamente felizes. Abriam os olhos apenas pelo prazer de ver o sorriso um do outro, pois já estavam completamente satisfeitos com o encontrar sutil e cego de seus corpos.
Uniam suas mãos e riam-se, conscientes da felicidade quase insana que sentiam. Tocavam seus lábios e sentiam o hálito um do outro como um elixir raro e único, feito especialmente para aquele momento e para aquelas duas pessoas. Era um encontro terreno e carnal, porém continha um aura tão angelical e celeste que parecia ter sido esculpido por forças etéreas, com o objetivo único de ser pintado pelo mais talentoso artista da Renascença. Um momento que poderia durar segundos ou dias ou anos sem perder sua mágica, praticamente tangível.
A chuva continuava intensa e dava aos apaixonados um pretexto para não abandonarem o conforto um do outro. O barulho do cair das gotas fazia-se plano de fundo para o unir dos cabelos negros e o rolar dos corpos sobre a cama. Risos irrompiam entre o balançar das cortinas e sussurros procuravam ouvidos serenos e esperançosos por entre os ruídos do dia. As palavras, poucas, soltas e em demasiado significativas, chegavam de forma leve e lenta a mente florida de ambos, provocando inevitáveis arrepios de paixão.
Certas vezes, ela adormecia entre os braços dele e, então, ele a observava em seu sono, absorto pela beleza daquele momento. Outras vezes, ela acordava ainda abraçada nele, agora adormecido, e levantava os olhos para assistir ao espetáculo de seu cabelo a balançar com a brisa, emoldurando um rosto tão querido. Algumas outras vezes ainda, os dois cruzavam olhares observadores e perdiam-se no rosto sorridente um do outro para, então, abraçarem-se e consumirem-se, como se aquele fosse um abraço esperado por muitos anos.
Aquele era um momento tão único que jamais poderia durar para sempre. Não suportaria se quer o tempo de dois ou três dias e ambos os amantes sabiam disso. Um dia e uma noite nunca seriam desse modo se não fosse únicos. Era certo que no amanhecer que seguiria aquele, ele a deixaria dormir em seus braços e, como antes, observaria seu lindo rosto entrar em sintonia com a paz que ele sentia ao vê-la. Entretanto, ele se desprenderia dela silenciosamente, beijaria sua testa com cautela e vestiria seu imponente uniforme de guerra.
Depois de minutos saudosos olhando a janela, uma vista que emoldurava momentos felizes, caminharia para fora do aposento tentando não olhar para o que deixava para trás. Colocaria a carta, já escrita, sobre a escrivaninha, junto às flores. Tentaria, sem sucesso, conter as lágrimas, marcando o papel escrito. Guardaria a foto dos dois, tirada ainda naquela manhã, com uma dedicatória na caligrafia fina e delicada dela.
Já de saída, marcaria com a chave, na porta de madeira, mais um coração, em meio a tantos outros que perdera a conta. Dentro, estaria escrita, a data de sua volta. Ele iria rir com a idéia de outra porta para abrigar tantos corações. Em seguida, porém, olharia uma última vez para a doce mulher que tanto amava e as lágrimas correriam. Então, com um apaixonado e lento mexer de lábios seria possível decifrar seu adeus, em um triste e esperançoso “Até logo, meu amor.”

sábado, 28 de janeiro de 2012

Estátua

Eu sinto falta do comum
Caminhar no habitual
Sorrir por estar em casa
Como se não houvesse nada igual

Sinto falta de abraços conhecidos
E do já tedioso viver de cada dia
É difícil conciliar a saudade
Mesmo que retirar-se seja uma alegria

Por tudo isso eu sinto plena falta
De palavras de consolo
Ou palavras entendidas
Sinto falta do meu sono
E das tardes escondidas

Aqui é cor e é vida
E eu me sinto demasiado bem
Mas há sempre a triste partida
E o chegar que nunca vem...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Choro

Acordei de um sonho bom
Uma queda e um piscar de olhos
Então tudo está desmoronando

As preciosidades de que me lembro
Brilham no fundo de algum poço
Encontram o chão e eu ouço
Todos os pedaços se esvaindo

São apenas sussurros
São apenas lembranças

Num relance os nós se desataram
Ficaram sós e se amarraram
Em um ponto distante do tempo

Eu sei que o passado não volta
Nem se regenera
O tempo não espera

Onde as vidas se chocam
Há um blecaute
Espera-se pelas estrelas da noite
Mas elas se afastam

A luz se esvai
E eu tenho medo
Tanto e tanto medo
Apenas

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Apática

Hoje eu me encontrei com o medo
Mais uma vez
Foi um pouco tristonho
Mas nada estranho
Pois já o conheço muito bem

Nós fomos cordiais
Afinal, nos vemos tanto!
Cumprimentamos-nos
Como velhos amigos
Logo depois, eu fugi, no entanto...

Eu fugi correndo
Esperando aquele derradeiro momento
Onde o vulto do medo irrompe diante dos meus olhos
Tristes e profundos
Lamento e mais lamento

Mas eu esperei demais
Tanto e tanto e...
Nada aconteceu.

Eu estava longe
Enxergando apenas a esguia silhueta do medo
Calmo, sábio e sereno

Ele deveria saber
Que um dia eu cansaria de tanto
Correr
E voltaria meio sombria para seu lado
Apenas para me
Recolher

Por que eu não sei vê-lo de frente
Encará-lo e domá-lo
Eu apenas corro e corro e corro e...

Dentro de mim
Há apenas um grito estridente
Um choro e um choro.

Espirais

Lentamente eu carrego minha alma
Vago é o porquê da vida
Longe está a verdade prometida
Continuo porque sei que algo falta

Para mim, sim, mas para outros
Muito mais
Para os poucos e tolos que pulam os muros
Vidas desiguais

Eu sei, não faz sentido
E está claro que é a mente que revela
Mas é difícil ver
Além do que se espera

Quando infinito torna-se espirituoso
Quando limitado é sólido e preguiçoso

É fácil ver. Tente acreditar...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Quando Guardei As Fotos

O que eu deveria pensar?
Algum dia eu escreverei uma história
Com todos esses pensamentos caóticos
Com os filmes em preto e branco da memória

Eu vasculharei as fotos empoeiradas
Procurarei as cartas, agora das traças
Seguirei as trilhas abandonadas
Tão só numa linha escassa

Eu sei que será perto do fim
Sei que o remorso irá me encarar
Vai jogar seu jogo sujo
Humildemente, meu ser cairá

Mas o que eu deveria pensar?
É a saudade e sua cruel crueldade
Eu vou sorrir mesmo diante de sua intimidade
É impossível se distanciar

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Três Pontos Mal Escritos

Isso é uma sombra
Um espectro negro do passado
Um fantasma
Um problema mal acabado

(perseguindo-me como maldição)

Um sol sem nuvem
Estrelas onde tudo é noite
Acordar em um quarto branco
Quadro negro de tudo em pranto

(iluminando tanto que machuca)
(infestando um mundo que não muda)

Um pedaço de orgulho que perfura
Um precipício sem saída
Um solo infértil
Um soco na ferida

(prometendo tudo que não irá cumprir)

Um monstro indefeso
Um caos ou uma vida
Sustentar o próprio peso
Encontrar a própria verdade
Completa e escondida

Marionete

O desatar dos nós das cordas
É uma decisão sua
O despertar do conforto nas horas vagas
É crescer rumo a Lua

Abraçar o medo
Sempre foi o meu forte
Das pequenas as grandes coisas
Foi meu sul e meu norte

Meu segredo de Estado
Motivo de tantos desvios
Meu amor confinado
Meu “talvez” sempre frio

Num nascer louco do sol
Acordar e perceber
Que jamais estarei preparada
Que a coragem nunca será suficiente
E que o certo será sempre a coisa errada

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Dia De Uma Vida

Foram lágrimas e foram sorrisos
Foram palavras e foram amigos
Foram sonhos dentro da realidade
Foram luz e cor de verdade

Aconteceram e mudaram
Transformaram pó em estrelas
Moveram os céus e vidas inteiras
Sendo o que sempre foram

Apenas um ou outro dia
Mas não esse
O sol virá e, como mágica,
Continuará sendo hoje

O que você espera secretamente
Por saber que não deve esperar
Torna-se real, finalmente
E não se sabe como descrever
Só se encantar
E agradecer
E agradecer
E agradecer

Obrigada.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Demais

Isso é muito mais do que
Eu pensei que pudesse ser
E tudo o que é me faz
Ver além do que se pode perceber

E dói
A cada esquina virada na vida
Machuca e corta os vínculos
Tormenta e tortura por ser tão
Inconsistente

E faz bem
A cada giro do carrossel ou do planeta
Faz cócegas e colori o mundo como balões
Diverte e amedronta por ser tão
Inconsciente

São tantas luzes e feixes de várias cores
São movimentos e formas
São sentimentos e sentidos
Bons e ótimos, novos e antigos

São sonhos
Doses irreais do que se quer
Muito mais do que há
É o que eu quero ver

Muito menos, porém, é o que sei
Sempre além é o que sou
Sempre só e assim estou
É o que segue, aonde vou.

Sem Saber

É tão triste
Encantador, ao mesmo tempo
Feliz em diversos momentos
Mas é triste, por não existir
Simplesmente

É triste por encontrar-me aqui
Novamente
Um mesmo caminho percorrido
Vejo minhas próprias pegadas

E eu estou sozinha
Novamente
Rindo de mim mesma
Levando as mesmas pancadas

Sendo patética e ridícula
Mais uma vez
Sendo assim simplesmente

Sabendo ser certo
Sabendo não ser
Mas está bem
É sem querer

É simples somente
Olhar para frente

Estou bem assim
Caindo nos mesmo lugares
Onde as marcas
Estão todas formadas

Não sei quanto tempo durará... Mas...

Estou bem assim
Sorrindo com esses ares
Essas lascas
De felicidade figurada