sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Árcade

Escrever me traz paz, paz...
Escrever me traz mais, mais...
Escrever ou viver?
Tanto faz.

Pra quê saber
Onde vamos parar?
Se uma incógnita
Se um fato
Sei que instinto é nato
Não há porque pensar

Sobre ou como ou por quê
É só seguir e escrever
E escrever e seguir
Às vezes sentir

Mas pra pensar assim
Não há motivo plausível pra mim

Pensar me traz angústia, lamúria.
Pensar não me traz vida mas fúria.

É cedo pra pensar e tarde para não o fazer
É tarde pra sonhar mas ainda é cedo para escrever
(Eis o que vou fazer)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Escombros


O telefone tocou.  Trim, trim. Eu recebi uma notícia ruim. Era uma vida dando adeus. As pernas enfraqueceram, mas a mão continuou firme segurando o objeto, como se aquilo tudo fosse, além de um choque emocional, uma descarga de energia, um choque literal. Eu sentei no chão bem ali. Recolhi minhas pernas. O objeto fez barulho ao confrontar o chão. Eu não sei se ouvi. Eu não sei se eu estava ali naquele momento. Foi rápido. Um lampejo. Uma navalha. Uma vida. Não a minha. Pior. Uma outra.
Eu me recolhi em corpo e alma e deixei que as mágoas desaguassem no chão. Deixei que as tristezas caíssem e me deixassem. Queria que elas me abandonassem, que fugissem o mais rápido possível. Eu tremi e não havia mão alguma para segurar a minha. Eu chorei e não havia pessoa alguma para secar minhas lágrimas. Foram segundos de eternidade enquanto a notícia se espalhava como um vírus no meu ser. Tomava conta da lucidez e da insanidade. As lágrimas tímidas que caíam não eram nada perto do escuro interior. Do buraco cauterizado na pessoa que eu era.
Passaram-se mais alguns segundos eternos e eu assimilei a verdade. A verdade por mais que doa tem que ser dita e entendida. Não precisa ser aceita ou acatada. Apenas entendida. A verdade veio e embaçou a visão levando-me para o escuro. Para a escuridão do pensamento. Eu encontrei o sofrimento lá. E - Por Deus! - porque você não foi embora logo? Maldito! Maldito! Já não bastasse a verdade, já não bastasse a tristeza, a dor... O sofrimento ainda veio me fazer visita.
Ele estava ali, sereno, no lado obscuro de mim. Como as verdades ocultas no lado obscuro da Lua. Ele me cumprimentou com um aceno leve, baixou os olhos, simples e eficaz. Ficou ali. Calado. Torturando-me só pro estar presente. Aguentei. Sim. Eu aguentei. Não foi suficiente, no entanto. Foi pouco. Tão pouco que quando dei por mim eu já havia me encolhido dentro do buraco. O buraco dentro de mim. Por que você tem de ser tão cruel? Por quê? Por que não podemos simplesmente negá-lo? Por que mesmo que você decida não sofrer, mesmo assim, você ainda sofre? Por que não se pode controlar? Por quê?! Por... quê?
Lágrimas, lágrimas e lágrimas. Ele só ficava sentado ali. Observando. Ajeitava os pés de vez em quando, fugindo da água que vazava dos meus olhos. E era tanta! Mas tanta água. A água corria de mim e chegava a mim e me molhava e me deixava com frio. A água inundou tudo. O sofrimento continuou ali enquanto eu sentia me afogar nas próprias tristezas. Eu estava me afogando em mim mesma e o fim só parecia mais e mais próximo. Talvez se eu me acabasse de dentro pra fora fosse mais fácil. Eu decidi desse modo. Eu estava praticamente abraçando o sofrimento para fugir dele.
Com frio e com medo do tempo que aquilo podia durar eu vi como um vulto o sofrimento vir em minha direção. Estava vindo me buscar. Ele chegava mais perto e a dor só ficava pior e pior e pior. Eu fechei os olhos, ali dentro de mim, e pensei em todos os sorrisos que já havia visto. De tudo que havia no mundo, foi o que eu escolhi colecionar: sorrisos. De tudo que havia no mundo era isso que eu queria ter como última lembrança. Eu visualizei todos os sorrisos. Todos. Eram tão aconchegantes. As lembranças das pessoas que um dia me sorriram, essas lembranças me abraçavam e me inundavam de... Não sei. Amor? Felicidade? Compaixão? Elas me inundavam. Os sorrisos me inundavam. Traziam consigo as mãos e os abraços e as palavras de conforto. Era tudo tão feliz e cheio de sinceridade que qualquer dor era inconcebível. Eu me inundei de sorrisos e me peguei sorrindo...
Abri os olhos. O mundo continuava ruim, a notícia pairava no ar, mas eu... Eu estava sorrindo. E o sofrimento... Sofrimento? Olá?! Sofrim... Onde estou? Será que eu morri? Onde. Estão. Os. Meus. Sorrisos? E o que é... O que é isso? Esse som. Abri os olhos. Novamente. Eu me vi encolhida na sala. Algumas lágrimas perdidas no rosto. Um telefone no chão. Trim, trim. Fez o telefone. Trim, trim. O que eu faço? Desnorteada. Alô?! Quem é? Quem... Um sorriso. Eu já ouvi isso antes. Essa voz, essa... “Está tudo bem com você? Eu fiquei preocupado... Alô?...” Lágrimas. Um soluço. “Vai ficar tudo bem.”

sábado, 10 de setembro de 2011

Análise

Passos corriqueiros compassados
Suspiros profundos e expirações
Observações mentais dos fatos
Palavras riscadas nas anotações

Caminhar e pensar como um ser qualquer
Ser um qualquer no seu caminhar
No seu pensar, ser o que se quer
Viver ao invés de sobreviver: como será?

Palmas, gritos e sorrisos tímidos
Interação entre pensamentos
Porções de ideais comprimidos
Perigosos cacos de passados tempos

Observar, observar e nunca ver
Concluir o verdadeiro é aceitar
Aceitar, aceitar e perceber
Que é muito tarde para voltar

Setas nas minhas conclusões
Misteriosos seres humanos
Eu vi além das suas canções
Estou ciente de seus planos.

domingo, 4 de setembro de 2011

Escuro

Eu não entendo, tenho medo
Do seu nome ecoando em minha mente
Se espalhando, fazendo efeito

Eu não entendo, tenho medo
Das ligeiras desculpas que dou
Das mentiras sem escrúpulos que me conto

Eu não entendo, tenho medo
Das ilusões, do meu sonho
Bem melhor que a realidade

Eu não entendo, tenho medo
De tudo que me ronda, que me cerca
Real e irreal: em todos os sentidos

Eu não entendo, tenho medo
Das palavras que se perdem
Das lágrimas que secam

Eu não entendo, tenho medo
Cada vez mais, tenho medo
Das vidas que me afrontam

Eu não entendo, tenho medo
Todo o medo que não entendo
Então eu me perco e eu me perco

Eu tento e tenho (cada vez mais) medo
De compreender... por mais frio e vazio
Que o meu medo possa ser.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Verdades Absolutas

Duas mãos entrelaçadas
São só mãos entrelaçadas
Sem duas almas também entrelaçadas

Duas almas cansadas
São só almas cansadas
Sem dois corpos também cansados

Duas vidas malvadas
São só vidas malvadas
Se não há vítimas machucadas

Dois sonhos perdidos
São só sonhos perdidos
Se não há perdidos indivíduos

Duas lágrimas frias
São só lágrimas frias
Em meio a tantas alegrias

Duas frases soltas
São só frases soltas
Em meio a tantas outras