sábado, 26 de janeiro de 2013

Achados e Perdidos

Nos perdemos nos montes de papéis no chão
Nos filmes jamais vistos e nos livros lidos no escuro
Nos fantasmas do passado e nas expectativas do futuro

Perdemos nossos objetivos e nossas metas
No rápido passar de um dia longo
Perdemos nossos amigos e nossos inimigos
Enfrentando os erros por nós cometidos
Perdemos a respiração e os batimentos cardíacos
Absortos em nossos falsos sentidos

Perdemos tudo que um dia tivemos
Procurando por escapes que nunca existiram
Cultivando lembranças que nunca se repetirão

Perdemos cada pequena parte do tudo que somos
Vivendo o tedioso dia-a-dia
Dormimos na esperança de nos acharmos no amanhã
Mas o amanhã sempre se revela
Uma decepcionante repetição do ontem e do hoje

Então continuamos perdidos
Na busca infinita de nós mesmos
Procurando os vestígios de nós que, desatentos
Deixamos passar.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Vagas Esperas

Eu não esperaria nada melhor
Porque não sou de esperanças
Sou só de esperar.

Aprecio as longas esperas, pelas coisas boas
Com as ruins, não me importo:
Esqueço.

Gosto quando boas esperas duram o suficiente para serem ansiadas
Gosto quando as ruins duram apenas o bastante para serem esperadas
Mas no fim gosto mesmo é de esperar
Talvez seja a melhor parte

É bom quando as coisas acontecem
Mas então passam como um trem bala
Chocam-se com o muro da memória e solidificam
Sem retorno.

Dizem que mudamos as lembranças cada vez que lembramos
Mas que diferença isso faz se elas já aconteceram?
Onde estão essas lembranças afinal?
Nem ao menos sei se são reais agora

As esperas são sempre reais
Mesmo que a imaginação invente hipóteses para o acontecido
A espera é viva

A espera pode ser tocada
É sentida no ar e aclamada nas ruas
A espera tem cores
As memórias são em preto e branco
Em cinza, em sépia, nubladas

Gosto de esperar porque o futuro é incerto, sempre
Já o passado, o passado é o mesmo e nunca é sincero
Pois a mente, ela mente para nós

As coisas mortas são podres e feias
O passado, a memória, as lembranças
Estão enterradas no lado escuro
Dos muitos satélites que orbitam nossas vidas

Eu não esperaria nada melhor
Porque não sou de esperanças
Sou só... de esperar.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A Doce Súplica Dos Falsos Dementes

Estranho como nos escondemos
Atrás dos troncos do nosso passado
Na esperança de sermos encontrados por anjos

Estranho como nos recolhemos
Dentro dos nossos pensamentos bagunçados
Suplicando por uma explicação dos céus

Queremos ser achados
Por aqueles que estão perdidos
Pois são os únicos que poderão nos entender

E se não...
Queremos ser confundidos
Como vultos apressados
Para que ninguém possa nos reconhecer

Porque não está ao alcance dos lúcidos
O doce veneno de nossas loucas mentes
Mas os perdidos sentem de longe
A presença dos falsos dementes

Os desencontrados entendem a súplica
Nos olhos dos pobres cachorros
Que se culpam por não enxergar em cores

Entendem que não é assim fácil
Reprimir as vísceras que sangram tristezas
E mostrar os dentes amarelados de café
Pois a vida não nos tem deixado dormir

Assim nós queremos
Ser encontrados pelos que estão perdidos
Desencontrados e mentalmente danificados... como nós

Queremos ser sentidos
Como um zumbido nos ouvidos
Que se finge não escutar
Como uma picada de mosquito
Que demora a coçar

Queremos ser encontrados
Por aqueles que estão perdidos
Num encontro suave
Numa troca de olhares

Pois os perdidos, de longe, sentem
A presença de falsos dementes