segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pare

Há uma nuvem de pensamentos
Rondando nossas vidas imundas
Existem muitos caminhos isentos
Mas nossas faces estão turvas e confusas

Caminhe, é o que eu digo.
Mas é tão fácil falar
Estou vendo seus pedaços caírem
Estou me curvando a todo o momento para juntar

Eu não me importo
Porque é apenas um fato
Eu faço reverencias ao sol
E reafirmo o nosso contrato

As correntes já quebraram
Eu sei que estou livre
Mas a liberdade custa caro
Esse é o modo que se vive

Eu me encolho em terra
Para ser recebida no céu
Há uma chuva passageira
É uma passagem, um véu

Colori meus olhos
Mas porque voltar a enxergar
Está frio por entre os cacos
Talvez eu nem queira voltar

Dizem que os primeiros passos são definitivos
Os últimos são apenas uma conseqüência
Mas não faz sentido nesses tempos
Vivendo um eterno estado de emergência

domingo, 29 de janeiro de 2012

O Paraíso de Um Dia e Uma Noite

Era uma manhã fria e chuvosa e o bonito casal entrelaçava suas pernas por entre os cobertores quase como uma dança lenta e sentimental, sem, no entanto, desmanchar o abraço passional que os envolvia. O sol iluminava o quarto por entre as cortinas em tons fortes de vermelho e laranja, uma luz tímida e sem muito efeito, com os raios encontrando brechas entre as nuvens em um céu nublado e cinza. Muito adequado ao momento.
Nenhum dos dois estava interessado em deixar o pequeno apartamento no subúrbio calmo, quase escondido, na grande cidade de arranha-céus. Na verdade, relutavam até mesmo com a idéia de sair do aconchego da cama, do mundo perfeito que eram os móveis do quarto envolvidos pela felicidade, quase ingênua, daqueles dois seres, perfeitamente felizes. Abriam os olhos apenas pelo prazer de ver o sorriso um do outro, pois já estavam completamente satisfeitos com o encontrar sutil e cego de seus corpos.
Uniam suas mãos e riam-se, conscientes da felicidade quase insana que sentiam. Tocavam seus lábios e sentiam o hálito um do outro como um elixir raro e único, feito especialmente para aquele momento e para aquelas duas pessoas. Era um encontro terreno e carnal, porém continha um aura tão angelical e celeste que parecia ter sido esculpido por forças etéreas, com o objetivo único de ser pintado pelo mais talentoso artista da Renascença. Um momento que poderia durar segundos ou dias ou anos sem perder sua mágica, praticamente tangível.
A chuva continuava intensa e dava aos apaixonados um pretexto para não abandonarem o conforto um do outro. O barulho do cair das gotas fazia-se plano de fundo para o unir dos cabelos negros e o rolar dos corpos sobre a cama. Risos irrompiam entre o balançar das cortinas e sussurros procuravam ouvidos serenos e esperançosos por entre os ruídos do dia. As palavras, poucas, soltas e em demasiado significativas, chegavam de forma leve e lenta a mente florida de ambos, provocando inevitáveis arrepios de paixão.
Certas vezes, ela adormecia entre os braços dele e, então, ele a observava em seu sono, absorto pela beleza daquele momento. Outras vezes, ela acordava ainda abraçada nele, agora adormecido, e levantava os olhos para assistir ao espetáculo de seu cabelo a balançar com a brisa, emoldurando um rosto tão querido. Algumas outras vezes ainda, os dois cruzavam olhares observadores e perdiam-se no rosto sorridente um do outro para, então, abraçarem-se e consumirem-se, como se aquele fosse um abraço esperado por muitos anos.
Aquele era um momento tão único que jamais poderia durar para sempre. Não suportaria se quer o tempo de dois ou três dias e ambos os amantes sabiam disso. Um dia e uma noite nunca seriam desse modo se não fosse únicos. Era certo que no amanhecer que seguiria aquele, ele a deixaria dormir em seus braços e, como antes, observaria seu lindo rosto entrar em sintonia com a paz que ele sentia ao vê-la. Entretanto, ele se desprenderia dela silenciosamente, beijaria sua testa com cautela e vestiria seu imponente uniforme de guerra.
Depois de minutos saudosos olhando a janela, uma vista que emoldurava momentos felizes, caminharia para fora do aposento tentando não olhar para o que deixava para trás. Colocaria a carta, já escrita, sobre a escrivaninha, junto às flores. Tentaria, sem sucesso, conter as lágrimas, marcando o papel escrito. Guardaria a foto dos dois, tirada ainda naquela manhã, com uma dedicatória na caligrafia fina e delicada dela.
Já de saída, marcaria com a chave, na porta de madeira, mais um coração, em meio a tantos outros que perdera a conta. Dentro, estaria escrita, a data de sua volta. Ele iria rir com a idéia de outra porta para abrigar tantos corações. Em seguida, porém, olharia uma última vez para a doce mulher que tanto amava e as lágrimas correriam. Então, com um apaixonado e lento mexer de lábios seria possível decifrar seu adeus, em um triste e esperançoso “Até logo, meu amor.”

sábado, 28 de janeiro de 2012

Estátua

Eu sinto falta do comum
Caminhar no habitual
Sorrir por estar em casa
Como se não houvesse nada igual

Sinto falta de abraços conhecidos
E do já tedioso viver de cada dia
É difícil conciliar a saudade
Mesmo que retirar-se seja uma alegria

Por tudo isso eu sinto plena falta
De palavras de consolo
Ou palavras entendidas
Sinto falta do meu sono
E das tardes escondidas

Aqui é cor e é vida
E eu me sinto demasiado bem
Mas há sempre a triste partida
E o chegar que nunca vem...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Choro

Acordei de um sonho bom
Uma queda e um piscar de olhos
Então tudo está desmoronando

As preciosidades de que me lembro
Brilham no fundo de algum poço
Encontram o chão e eu ouço
Todos os pedaços se esvaindo

São apenas sussurros
São apenas lembranças

Num relance os nós se desataram
Ficaram sós e se amarraram
Em um ponto distante do tempo

Eu sei que o passado não volta
Nem se regenera
O tempo não espera

Onde as vidas se chocam
Há um blecaute
Espera-se pelas estrelas da noite
Mas elas se afastam

A luz se esvai
E eu tenho medo
Tanto e tanto medo
Apenas

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Apática

Hoje eu me encontrei com o medo
Mais uma vez
Foi um pouco tristonho
Mas nada estranho
Pois já o conheço muito bem

Nós fomos cordiais
Afinal, nos vemos tanto!
Cumprimentamos-nos
Como velhos amigos
Logo depois, eu fugi, no entanto...

Eu fugi correndo
Esperando aquele derradeiro momento
Onde o vulto do medo irrompe diante dos meus olhos
Tristes e profundos
Lamento e mais lamento

Mas eu esperei demais
Tanto e tanto e...
Nada aconteceu.

Eu estava longe
Enxergando apenas a esguia silhueta do medo
Calmo, sábio e sereno

Ele deveria saber
Que um dia eu cansaria de tanto
Correr
E voltaria meio sombria para seu lado
Apenas para me
Recolher

Por que eu não sei vê-lo de frente
Encará-lo e domá-lo
Eu apenas corro e corro e corro e...

Dentro de mim
Há apenas um grito estridente
Um choro e um choro.

Espirais

Lentamente eu carrego minha alma
Vago é o porquê da vida
Longe está a verdade prometida
Continuo porque sei que algo falta

Para mim, sim, mas para outros
Muito mais
Para os poucos e tolos que pulam os muros
Vidas desiguais

Eu sei, não faz sentido
E está claro que é a mente que revela
Mas é difícil ver
Além do que se espera

Quando infinito torna-se espirituoso
Quando limitado é sólido e preguiçoso

É fácil ver. Tente acreditar...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Quando Guardei As Fotos

O que eu deveria pensar?
Algum dia eu escreverei uma história
Com todos esses pensamentos caóticos
Com os filmes em preto e branco da memória

Eu vasculharei as fotos empoeiradas
Procurarei as cartas, agora das traças
Seguirei as trilhas abandonadas
Tão só numa linha escassa

Eu sei que será perto do fim
Sei que o remorso irá me encarar
Vai jogar seu jogo sujo
Humildemente, meu ser cairá

Mas o que eu deveria pensar?
É a saudade e sua cruel crueldade
Eu vou sorrir mesmo diante de sua intimidade
É impossível se distanciar

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Três Pontos Mal Escritos

Isso é uma sombra
Um espectro negro do passado
Um fantasma
Um problema mal acabado

(perseguindo-me como maldição)

Um sol sem nuvem
Estrelas onde tudo é noite
Acordar em um quarto branco
Quadro negro de tudo em pranto

(iluminando tanto que machuca)
(infestando um mundo que não muda)

Um pedaço de orgulho que perfura
Um precipício sem saída
Um solo infértil
Um soco na ferida

(prometendo tudo que não irá cumprir)

Um monstro indefeso
Um caos ou uma vida
Sustentar o próprio peso
Encontrar a própria verdade
Completa e escondida

Marionete

O desatar dos nós das cordas
É uma decisão sua
O despertar do conforto nas horas vagas
É crescer rumo a Lua

Abraçar o medo
Sempre foi o meu forte
Das pequenas as grandes coisas
Foi meu sul e meu norte

Meu segredo de Estado
Motivo de tantos desvios
Meu amor confinado
Meu “talvez” sempre frio

Num nascer louco do sol
Acordar e perceber
Que jamais estarei preparada
Que a coragem nunca será suficiente
E que o certo será sempre a coisa errada

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Dia De Uma Vida

Foram lágrimas e foram sorrisos
Foram palavras e foram amigos
Foram sonhos dentro da realidade
Foram luz e cor de verdade

Aconteceram e mudaram
Transformaram pó em estrelas
Moveram os céus e vidas inteiras
Sendo o que sempre foram

Apenas um ou outro dia
Mas não esse
O sol virá e, como mágica,
Continuará sendo hoje

O que você espera secretamente
Por saber que não deve esperar
Torna-se real, finalmente
E não se sabe como descrever
Só se encantar
E agradecer
E agradecer
E agradecer

Obrigada.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Demais

Isso é muito mais do que
Eu pensei que pudesse ser
E tudo o que é me faz
Ver além do que se pode perceber

E dói
A cada esquina virada na vida
Machuca e corta os vínculos
Tormenta e tortura por ser tão
Inconsistente

E faz bem
A cada giro do carrossel ou do planeta
Faz cócegas e colori o mundo como balões
Diverte e amedronta por ser tão
Inconsciente

São tantas luzes e feixes de várias cores
São movimentos e formas
São sentimentos e sentidos
Bons e ótimos, novos e antigos

São sonhos
Doses irreais do que se quer
Muito mais do que há
É o que eu quero ver

Muito menos, porém, é o que sei
Sempre além é o que sou
Sempre só e assim estou
É o que segue, aonde vou.

Sem Saber

É tão triste
Encantador, ao mesmo tempo
Feliz em diversos momentos
Mas é triste, por não existir
Simplesmente

É triste por encontrar-me aqui
Novamente
Um mesmo caminho percorrido
Vejo minhas próprias pegadas

E eu estou sozinha
Novamente
Rindo de mim mesma
Levando as mesmas pancadas

Sendo patética e ridícula
Mais uma vez
Sendo assim simplesmente

Sabendo ser certo
Sabendo não ser
Mas está bem
É sem querer

É simples somente
Olhar para frente

Estou bem assim
Caindo nos mesmo lugares
Onde as marcas
Estão todas formadas

Não sei quanto tempo durará... Mas...

Estou bem assim
Sorrindo com esses ares
Essas lascas
De felicidade figurada