segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Bem vinda, culpa.

Na enorme e angustiante maioria do tempo eu sou inteiramente culpa e medo. Uma carcaça errante cheia culpa e medo de errar e sentir mais culpa e culpa e culpa. Assim, num circulo vicioso. Um ciclo conturbado de culpa e medo em que os passos são calculados e os sorrisos comedidos.
Como a maioria das coisas que se carrega por muito tempo, não me lembro quando, nem como adquiri tanta culpa dentro de mim. Só sei que se acumulou e com o passar dos dias acabei me acostumando. A culpa se tornou uma grande amiga. Uma amiga que me reconforta num abraço frio e melancólico de mim mesma. Como se, em baixo de uma cachoeira fria em um dia nublado, eu aconchegasse meus braços ao redor do meu próprio corpo e fechasse os olhos. Frio e melancólico. A culpa conforta, por ser só sua. Intrínseca. Mesmo que vários outros a tivessem alimentado e criado. Ela é só sua. Os transeuntes da vida não a podem tirar e tomá-la pra si. No meu caso, não podem nem ao menos ver. Não há motivos pra mostrar-lhes minha culpa. Já que esta é apenas minha. A minha culpa.
A culpa faz com que a vida seja uma busca eterna para se tornar útil, fazer-se bem vindo e confortável já que, de outra forma, tudo que se é não passa de um grande estorvo humano. Um corpo que se move na direção do nada, um corpo que os outros corpos suportam apenas por serem iguais. Ninguém quer se sentir lixo ou lama ou lixo na lama ou lama no lixo, um vazio de nada. Ninguém quer. Eu não quero. Eu não devo. Eu não posso.
Foi caminhando pela vida comum, carregando minha enorme culpa, que eu encontrei o medo. Isso foi há muito tempo. Ele me acompanha desde então. O medo e a culpa se dão bem. Parecem completos. Eles riem juntos, fazem brincadeiras, se divertem fazendo um alvoroço dentro de mim. Mas eu continuo quieta, porque a culpa, ela é minha, somente minha. E o medo? Bem, ele é amigo dela. Eu gosto que a culpa fique confortável. Por isso deixo o medo a lhe fazer companhia. Bem aqui, dentro de mim. 
Talvez se alguém disser as palavras certas e olhar bem fundo nos meus olhos, talvez assim, poderá ver a culpa lá dentro. Dentro de mim. Se examinar bem o meu semblante pálido de fina expressão, poderá ver o medo. No meu respirar calculado, no sorriso comedido, no estado de quietude, ali está o medo. A culpa que o trouxe. Eu deixo o medo ficar porque ele a faz companhia. Eu gosto de deixá-la confortável. Afinal, a culpa, ela é completamente minha.

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