sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Concha

Senti uma coceira perto do pescoço
Era o novo querendo entrar no meu pensamento
Todo bobo dizendo que trazia luz
Menti dizendo que não precisava
Quando na verdade não o queria
Eu mesmo estava no escuro
No escuro eu me encontrava

Eu estava meio tonta com o tempo
Que me trocou pelos fogos do momento
Rancorosa, construí um muro
Me encolhi e me escondi.
Eu vivi ali feito ermitão
Me alimentava das migalhas do chão
Os pássaros jogavam por gratidão

Pássaros eram amigos
Eu os deixava se esconderem atrás do muro
Quando os estilingues eram muitos
Eles eram meus olhos
Eram proteção além do nada
O nada era o lado de fora
Pois o dentro de nós é sempre maior e mais curioso

Enquanto os outros exploravam o nada além do muro
Eu descobria os calabouços dentro de mim
Havia alguns campos de flores e alguns parques
Porque ninguém vive de trevas até o fim

Nunca apareceu nada além dos pássaros
Do nada de fora nada veio e assim foi sendo
Nunca precisei ver além dos muros
Para saber que, tolos, todos estavam morrendo

Um dia os pássaros não vieram mais
Migalhas não mais caíram do céu
A fome veio e notei
Que era tempo de descansar
Sem olhar além da muralha
Deitei minha cabeça e esperei faltar o ar

Nunca quis ver o lado de fora
E não havia porque de no fim mudar
Dentro de mim eu era suficiente
E foi assim que resolvi terminar

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